CANÇÃO PARA OS HOMENS DE INGLATERRA
Homens de Inglaterra, porquê lavrar
Para os senhores que vos derrubam?
Porquê tecer com esforço e cuidado
As ricas roupas que vestem os vossos tiranos?
Porquê alimentar, e vestir, e proteger,
Do berço até à sepultura,
Aqueles ingratos zângãos que
Exauririam o vosso suor como beberiam também o vosso sangue?
Porquê, Abelhas de Inglaterra, forjar
Tantas armas, grilhetas e chicotes
Se esses zângãos sem ferrão podem destruir
O produto forçado da vossa labuta?
Será que tendes lazer, conforto, calma,
Abrigo, comida, o doce bálsamo do amor?
O que é então que comprais tão caro
Com a vossa dor e com o vosso medo?
O grão que semeais, colhe-o outro;
A riqueza que encontrais, fica outro com ela;
As roupas que teceis, outro as veste;
As armas que forjais, as usa outro.
Semeai grão, - mas não deixeis que nenhum tirano o colha;
Encontrai riqueza, - não deixeis nenhum impostor acumulá-la;
Tecei roupas, - não deixeis nenhum ocioso usá-las;
Forjai armas, - a usar em vossa defesa.
Recolhei às vossas caves, buracos e cubículos;
Nas mansões que embelezais, outro lá vive.
Porquê sacudir as grilhetas que forjastes? Vedes
O aço que temperastes brilhar sobre vós.
Com o arado e a pá, e a enxada e o tear,
Cavai a vossa sepultura e construí o vosso túmulo,
E tecei a vossa mortalha, até que a bela
Inglaterra seja o vosso sepulcro.
Percy B. Shelley, in A Máscara da Anarquia, trad. Célia Henriques (com VST/AP), pp. 103-104, &etc, Setembro de 2008.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Percy B. Shelley
Publicada por M.A. à(s) 03:40
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