O LIMITE DAS CINZAS – Jean-Claude Renard
Eis a lenha que eu trouxe.
O fogo não transpõe o limite das cinzas
Mas o calor do fogo entranha-se na casa.
Uma fenda se abriu nos tijolos gelados,
A barreira da ausência.
Um agasalho de ar para os membros, os móveis,
A alma no desabrigo.
Agora nos parece alvejar uma sombra
Nos ângulos da noite,
Um começo de luz, qual ponte transparente
De uma ilha para outra.
Mais manso que a palavra, alguma coisa pura levanta sua voz
E que diz talvez mais.
Aquilo que já encontro,
E em que já estou pegando
Me perde ao me queimar.
Ao longe está luzindo a vívida matéria
Que permite a aliança entre as águas e a brasa
Sem que nenhum dos dois padeça alteração?
Cresce em mim um vazio – em que brota um apelo feito para a
resposta e essência singular
daquilo que o criou.
E mesmo, de repente, no nada fecundo e no espaço de tempo que
Só se cumpre com a eternidade,
A árvore para mim é livre e necessária
E seu mistério quer que eu lhe seja também.
Acenderei seu nome
Naquela morte aberta onde o oculto verão ganha a doçura dos seios.
Tradução de Cláudio Veiga
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Jean-Claude Renard
Publicada por M.A. à(s) 03:42
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