terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

UMBRAL

Outra palavra interessante de nossa Língua é "Umbral". Vem de "sombra", e tem pelo menos dois significados: um, aquele que Fernando Pessoa emprega na tradução de O Corvo de Edgar Allan Poe, o de "ombreira de porta, ou janela"; o outro, usado por certas pessoas dadas ao hermetismo, à metafísica, diz respeito a um estado entre o sono e a vigília, estado semelhante ao sonho, um estado meio hipnótico, uma das fases do sono e do sonho pra certos metafísicos leigos (digo, nem psicólogos nem psicopatologista, pelo menos até onde eu sei) Já a palavra delirium refere-se a um estado patológico da mente, sintoma de perturbaçõa orgânica cerebral, tanto podendo ser causado por demênica, tumor cerebral, trombose ou hemorragia cerebrais, algum sofrimento cerebral resultante de grave doença corpórea (coma hepático), e ainda intoxicação ou abstinência de drogas (o delirium tremens da abstinência alcoólica grave, por exemplo), pois bem, um estado patológico da mente rico em visões fantásticas, amedrontadoras (ou decerto prazerosas para alguns perversos intoxicados), alucinações e ilusões com forte conteúdo emocional que se exppressam claro por idéias delirantes, interpretações falsas patológicas da realidade - a quintessência da loucura.

Certa vez vi um charlatão, desses religiosos e cientistas ao mesmo tempo que exploram a a ignorância e o medo das pessoas para escravizá-las mentalmente e ganhar seguidores e dinheiro, discorrendo sobre o Umbral: região sombria da mente de existência quase física, plena de seres terríveis dos Infernos prestes a arrastar para lá almas dadas à desobediência, à incredulidade, à amoralidade, ao Pecado, aos vícios do carne e da alma... E todos nós teríamos de passar todas as noites pelo Umbral quando adormecemos... Nossa, como alguns dos ouvintes ficaram assustados!

O personagem do poema a seguir, bastante insignificante mas que se torna até apresentável para quem tem cultura poética e alguns dos conhecimentos acima, narra a experiência de alguém que estaria já cruzando o umbral entre a sanidade e a loucura, aceitando as próprias alucinações aterrorizantes como sendo até mesmo agradáveis... pelo menos são uma companhia.
NO UMBRAL – DELIRIUM
“Uma visita está batendo a meus umbrais...”


Já não considero mais
Estorvo
Ter-me tornado incapaz.

Já sorvo
Meu negro futuro em paz.

Observo,
Sempre está em meus umbrais,

Ser torvo
Que me é fiel demais:

É o Corvo.
– É ele! – É Nunca Mais!


Antônio Adriano de Medeiros

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