terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

AINDA SEVILHA AO TELEFONE


AINDA SEVILHA AO TELEFONE – João Cabral de Melo Neto


Quando pelo telefone
quero falar com Sevilha
e Sevilha, por acaso,
está no instante dormida,

deixo aberto o telefone
à concha de voz vazia:
ouço então no telefone
como relógio com vida,

toda uma vida passar
como o ácido vivo de ginja.
Ninguém fala ao telefone,
mas há pulsação longínqua;

onde há um pregão de tudo,
onde há pragas de vizinhas,
e se ouve o arfar da cidade
que sabe dormir feminina.

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