segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Gerhardt Hauptmann

SOMBRA DA VIOLÊNCIA – Gerhardt Hauptmann


Soubesse eu o que em sonho me revelou
O Espírito Eterno
-Ele a quem louvam Terra e Céu –
Quando do mar do tempo
Me lançou a este deserto vermelho,
Abandonado para todo o sempre
A todas as misérias!
Ali fiquei na areia ardente
Sem noção do dia de ontem nem do dia de amanhã!
Desamparado de tudo,
Desapegado de todos,
Tudo o que viam meus olhos
Me era estranho,
Tudo aparência e ilusão.
Uma criatura – seria um homem?
Me encarava na areia abrasada,
Alheado e taciturno,
Frio e insensível.de certo modo me regozijei
Ao ver ali uns feixes
Que pareciam arrumados por mão humana:
Estaria eu perto dos homens?
Mas reconheci num como grito mudo
Que era palha vazia!
Ah, a colheita acabou,
E onde está o trigo?
Meditando como em sonho
Sobre aquela aparição,
Ali quedei na areia ardente,
Em face do corpo mudo, nem homem nem mulher
Na sua silenciosa nudez, paralisado pela morte.
“Vens da parte da Esfinge?” perguntaram não sei donde.
Então, erguendo às cegas a mão
E subitamente inflamado, palpitante:
“Não pergunte ninguém quem eu seja
Nem quem sejas”, falou.
“As perguntas aqui não têm sentido!
A paz das coisas parece mais vazia em torno de nós.
Não te fies das aparências:
Pois já não somos ambos
Senão sombras da violência.”


Gerhardt Hauptmann


tradução de Manuel Bandeira

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