terça-feira, 25 de setembro de 2012

Elogio da Distância






Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.


Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:


Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.


Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.


Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.


Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.



Paul Celan, in "Papoila e Memória"
Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno

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