"Poesia também é atenção, ou seja, a leitura em múltiplos planos da realidade à nossa volta, que é a verdade em imagens. E o poeta, que vai desfazendo e recompondo essas imagens, é também um mediador: entre o homens e o deus, entre o homem e o outro homem, entre o homem e as regras secretas da natureza.
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A arte de hoje é em grandíssima parte imaginação, ou seja,contaminação caótica de elementos e de planos.
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A atenção é o único caminho para o inexprimível, a única via para o mistério. De facto, está solidamente ancorada no real, e só por alusões ocultas no real se manifesta o mistério.
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Pedir a alguém que nunca se distraia, que escape sem repouso aos equívocos da imaginação, à preguiça dos hábitos, à hipnose dos costumes, é pedir-lhe que viva na sua máxima forma. É pedir-lhe alguma coisa muito perto da santidade, num tempo que parece apenas perseguir, com cega fúria e glaciar sucesso, o divórcio total entre a mente humana e a faculdade da atenção que lhe pertence."
(Cristina Campo; Os Imperdoáveis- Tradução de José Colaço Barreiros; Assírio & Alvim)