quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Poemas de Carlos Marzal




A poesia tem aquela aura de escrita intensa que quando é doce é muito doce, quando é dramática é muito dramática, quando é selvagem é muito selvagem.



Esplanada



está a chuviscar um bocadinho
mas não tanto que se possa
chamar a isto mesmo chuva


e vamos ficando molhados lentamente
mas não tão molhados que valha
a pena falar disso


e um bocadinho apaixonados
mas não tanto que se possa
chamar a isto mesmo amor



Poema de Henrik Nordbrandt, traduzido por Vitor Lucas Santos

***

Le bout de la nuit



Depois de termos amado (a até às vezes a sério)
e de termos sido amados (inclusive de verdade)
Depois de termos escrito, mas sem nomear nunca
o que era necessário. Depois das cidades,
dos corpos dos objectos, depois de termos deixado
para trás o memorável com que coincidimos,
depois de defraudarmos, depois de nos defraudarmos,
depois de percorrermos a viela do tempo,
depois da impiedade, depois do fogo,
acabamos por chegar ao fim da noite.
E aí a chuva cai escura sobre o mundo,
e já não há ocasião para dizermos depois.


Poema de Carlos Marzal (traduzido por Joaquim Manuel Magalhães)

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