A poesia tem aquela aura de escrita intensa que quando é doce é muito doce, quando é dramática é muito dramática, quando é selvagem é muito selvagem.
Esplanada
está a chuviscar um bocadinho
mas não tanto que se possa
chamar a isto mesmo chuva
e vamos ficando molhados lentamente
mas não tão molhados que valha
a pena falar disso
e um bocadinho apaixonados
mas não tanto que se possa
chamar a isto mesmo amor
Poema de Henrik Nordbrandt, traduzido por Vitor Lucas Santos
***
Le bout de la nuit
Depois de termos amado (a até às vezes a sério)
e de termos sido amados (inclusive de verdade)
Depois de termos escrito, mas sem nomear nunca
o que era necessário. Depois das cidades,
dos corpos dos objectos, depois de termos deixado
para trás o memorável com que coincidimos,
depois de defraudarmos, depois de nos defraudarmos,
depois de percorrermos a viela do tempo,
depois da impiedade, depois do fogo,
acabamos por chegar ao fim da noite.
E aí a chuva cai escura sobre o mundo,
e já não há ocasião para dizermos depois.
Poema de Carlos Marzal (traduzido por Joaquim Manuel Magalhães)
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Poemas de Carlos Marzal
Publicada por M.A. à(s) 01:26
Etiquetas: Poema de Carlos Marzal -traduzidos por Joaquim Manuel Magalhães e Vitor Lucas Santos
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